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O caminho adiante





Sem uma nova estrutura, ou uma visão diferente da dos fracassados e limitados esforços do passado, não haverá possibilidade de desafiar o todo-envolvente ecocídio, desumanização, e a destruição que são tão desenfreados atualmente. Todos sabem que a vela esta oscilando, que a crise generalizada continua a se espalhar e se aprofundar. Meus parentes conservadores sabem que tudo está desmoronando. Esta condição assustadora e sem precedentes deve ser desafiada em sua totalidade e em suas raízes. Existe cada vez menos interesse em abordagens parciais, e por uma boa razão: abordagens parciais apenas garantem que as coisas continuem cada vez pior.
 
Tem ocorrido para um número crescente de pessoas, em vários lugares, que olhar para uma saída necessariamente envolve atacar a exata natureza da sociedade. Não somente o capitalismo, mas a sociedade de massas e sua forma cada vez mais tecnificada, com suas raízes na civilização. Certamente algumas pessoas tem tomado agora uma retórica anti-civilização, ao mesmo tempo que evitam sua essência. Recentemente eu li em uma mensagem na internet que começava com "eu sou anti-civilização, mas ..." Este indivíduo listou coisas que ele/ela condenava, porém, nenhuma dessas coisas estavam definindo os aspectos da civilização (domesticação, cidades). Com este tipo de manobra o jargão muda, e nada mais. Por exemplo, alguém poderia continuar aceitando o marxismo , com todas as suas limitações, e ainda sim, por alguma razão, adotar o rótulo anti-civilização. Tal mal uso de termos é comum; por exemplo, Noam Chomsky - um mero progressista - é referido como um anarquista.

Obviamente é o marxismo, em geral, que é o continuo refúgio para aqueles que não podem encarar a realidade, e ainda alegam que se opõem radicalmente a essa realidade. O marxismo, que não tem sido uma visão inspiradora desde a I Guerra Mundial. O Marxismo, que proporciona um conforto caso a visão do mundo seja limitada - conforto se o Século XIX for o contexto (e mesmo assim, certamente inadequado).

Uma quantidade de potencial libertador seria incorporado no final da esquerda, isto é muito claro. Embora tão amplamente, senão universalmente desacreditada, a esquerda trabalha para manter um horizonte que é criticamente resumido. A visão da esquerda é limitada por um par de cegueiras: a recusa em questionar a produção em massa e a tecnofilia. Quando aqueles que se identificam como pós-esquerdistas provam isto tomando elementos cardinais como as "teses", o termo começará a ter substância.

Generalidades, como a retórica, servem principalmente para mascarar uma falha de conteúdo. Heidegger falou infinitamente da autenticidade e foi um nazista; Sartre focou na liberdade e foi um estalinista. Se a filosofia é a reflexão de um modo geral, a política comete o mesmo erro, e muitas vezes com os piores motivos. Só a especificação e o concreto transmitem um real significado, e jogam com as conseqüências das intenções e responsabilidades pessoais. Uma recusa em ser especifico pode ser tida como a marca do político. "Anticivilização" e/ou "Pós-esquerda" deve ser mais do que rótulos, jargões vazios.

Se uma tarefa prática é a rasura do que resta da esquerda, um igualmente passo é mais longe,  exploração e questionamento sem limites. Precisamos problematizar, não assumir ou tomar por certo, cada componente e instituição da marcha mortal da civilização.

Superar obstáculos deve ser acompanhado por um aprimoramento na busca de modos para evoluir. Isto é, as alternativas, os meios para deixar a embarcação decadente. O espectro de outras maneiras de viver deve ser absolutamente essencial, caso, se expressões como "autonomia" e "re-conexão com a Terra" sejam carregar a importância que irá brevemente ser colocada sobre nós. Habilidades que não assumem a continuação da decadente e infantilizadora modernidade, mas ao contrario, são habilidades necessárias para abandonar isto. Habilidades ligadas à terra, paisagens comestíveis, tantas maneiras de aprender e explorar. Habilidades que maximizam a plenitude e anti-mediação individual, e que são chaves para compartilhar a visão anticivilização. Um convite em termos reais, sem o qual apenas palavras acontecem. Mesmo se os passageiros percebem que o jato esta inclinando-se diretamente ao chão, eles ainda não estão certos de pular pela janela.

O reino do espiritual chama, porque assim deve ser - ou deveria ser - com elementos básicos. Nossa vida-mundo desincorporado tem perdido lugar na existência. Já não nos olhamos como parte da teia e dos ciclos da natureza.  A perda de uma relação direta com o mundo tem bloqueado um antigo entendimento universal de nossa singularidade com o mundo natural. Os princípios da ligação e da simplicidade são o coração do conhecimento indígena: intimidade tradicional com a terra como uma imanente base da espiritualidade. Este entendimento é uma essencial e insubstituível fundação da saúde e do significativo. Esta linha de vida é inestimável. Seu eco é ouvido em comentários de que a anarquia verde esta na base de um movimento espiritual, o qual deve colocar a mudança mundial em repercussão. Isto é algo muito atraente para eles - e misterioso para mim. Eu tenho que dizer que esta esfera é intrigante, e aberta para mim. Mas parece bom sentir que algo esta acontecendo e admitir isso.

Producionismo ou futuro primitivo, duas materialidades. Um provocado pela extinção do espírito, o outro por  abraçar o espírito e sua realidade baseada na Terra. O abandono voluntário do modo de vida industrial não é auto-renuncia, mas um retorno de cura.  Voltando deste presente estado e direção do mundo, vamos procurar por  inspiração daqueles que tem continuado a viver espiritualmente com a natureza. Seus exemplos mostram o que precisamos fazer do nosso modo para o que ainda nos espera, ao nosso redor.

Táticas podem ter muitas fontes úteis. Supremo é a recusa da total desordem colapsante e a resistência contra todos aqueles que trabalham para nos manter emaranhados nisto.

Sobre a pobreza sexual





Uma sociedade baseada na concentração de poder e no intercâmbio econômico empobrece cada área da vida, inclusive as mais pessoais. Existe mais ou menos acordo quando se fala da liberação da mulher, da liberação dos homossexuais e inclusive a liberação sexual dentro do âmbito anarquista. Além disso, é fácil encontrar análises sobre a dominação masculina, sobre o patriarcado e o heterossexismo, mas a realidade do empobrecimento sexual parece que foi amplamente ignorada, a respeito da expressão sexual, limitaram às percepções como monogamia, poligamia, poliamor e outros mecanismos similares das relações amorosas. Segundo creio, esta limitação é em si mesma um reflexo de nosso empobrecimento sexual; limita-nos a falar dos mecanismos das relações de maneira que possamos evitar os questionamentos sobre a qualidade dessas mesmas relações.

Existem vários fatores que influem no empobrecimento sexual que experimentamos nesta sociedade. Se examinarmos suas origens, as instituições do matrimônio, a família e a imposição de algumas estruturas sociais patriarcais são importantes, e o papel que jogou não pode ser ignorado. Mas durante as últimas décadas, pelo menos aqui no chamado Ocidente, a força destas instituições diminuiu consideravelmente. No entanto o empobrecimento sexual não o fez. Talvez tudo ao contrário. Voltou-se mais intenso e o sentimos de uma forma mais desesperada.


O mesmo processo que permitiu a debilidade e a desintegração gradual da família é que agora sustenta o empobrecimento sexual: o processo de coisificação. A coisificação da sexualidade é evidentemente tão antiga como a prostituição (e quase tão velha como a civilização), mas nas últimas cinco décadas, a publicidade e os meios de comunicação coisificaram a concepção de sexualidade. A publicidade nos oferece um atrativo sexual que influencia nas massas, vinculando a paixão espontânea com desodorantes, sabonetes, perfumes e carros. Através dos filmes e da TV nos mostram imagens sobre a facilidade com a qual alguém pode conseguir gente bonita em sua cama. Evidentemente, é necessário que seja belíssimo e atrativo, e para consegui-lo nos servem desodorantes, perfumes, academia, dietas e produtos para o cabelo. Estamos adestrados para desejar imagens de "beleza" de plástico que são inalcançáveis porque em grande parte são fictícias. Está criação de desejos artificiais e inalcançáveis serve perfeitamente às necessidades do Capital, já que garantem uma continua sensação de insatisfação que pode ser utilizada para manter as pessoas comprando, numa tentativa desesperada de aliviar seus anseios.


A coisificação da sexualidade conduziu um tipo de "liberação" dentro do esquema das relações de mercado. Não somente porque é muito freqüente ver relações sexuais entre pessoas solteiras no cinema, mais porque cada vez mais as relações de homossexualidade, bissexualidade e inclusive algumas outras raras estão ganhando certo nível de aceitação entre a população. Evidentemente, de maneira que sejam úteis as necessidades de mercado. De fato, estas práticas são transformadas em identidades nas quais alguns se ajustam de forma mais ou menos estrita. Desta maneira, se converte em muito mais que uma simples prática de um determinado ato sexual. Assim "estilos de vida" completos estão associados a eles, implicando conformismo, lugares específicos para ir, produtos específicos para se comprar. Neste sentido, os gays, as lesbianas, os bissexuais, o couro e as subculturas desenvolvem suas funções como objetivos de mercado à margem da família tradicional e do contexto geral.


De fato, a coisificação da sexualidade permite que todas as formas de práticas sexuais sejam produtos de venda. No mercado sexual, todo o mundo vende a si mesmo ao mais alto posto enquanto tenta comprar aqueles que lhe atraem ao menor preço. Assim, se cria o absurdo jogo de jogar duro para conseguir ou tentar pressionar a outros para manter relações sexuais. E assim se dá a possessividade, que tão frequentemente é desenvolvida nas atuais relações de "amor". Depois de tudo, no regime do mercado, não é possuidor aquele que comprou?


Neste contexto, o ato sexual tende a tomar-se na mesma medida; uma forma quantificável em consonância com esta coisificação. Dentro de uma sociedade capitalista não deveria surpreender que a "liberação" da franqueza sexual signifique predominantemente uma discursão sobre o mecanismo do sexo. O jogo do ato sexual se reduz não somente ao prazer físico, mas mais especificamente ao orgasmo, e o discurso sexual se centra sobre os mecanismos mais efetivos para ganhar este orgasmo. Não quero ser mal interpretado. Um orgasmo eufórico é algo maravilhoso. Mas centrar o encontro sexual em conseguir um orgasmo, não nos permite sentir o jogo de nos perder no outro, aqui e agora. Mas que ser uma imersão de um no outro, o sexo centrado em alcançar o orgasmo se converte em uma tarefa que aspira a um objetivo futuro, a manipulação de certos organismos para ganhar um fim. Tal e como eu o vejo, isto transforma o sexo em uma atividade basicamente masturbatória - duas pessoas usando uma a outra para conseguir seu fim desejado, trocando (desde de o ponto de vista estritamente econômico) prazer sem dar nada de si mesmo. Nestas ações deliberadas, não existe lugar para a espontaneidade, a paixão sem medida, a entrega nas mãos de outro.


Este é o contexto social da sexualidade em nossas vidas atuais. Dentro deste contexto existem muitos outros fatores que reforçam o empobrecimento da sexualidade. O capitalismo necessita de movimentos de liberação parcial de todos os tipos, tanto pra a recuperação da revolta como para introduzir a embrutecida lei do mercado em cada vez mais aspectos de nossa vida. Por isso o capitalismo necessita do feminismo, dos movimentos de liberação racial e nacional, da liberação dos gays e também evidentemente da liberação sexual.


Mas o capitalismo não faz uso de forma imediata de todos os velhos métodos de dominação e exploração, e não faz porque são sistemas lentos e complicados. As lutas de liberação parcial mantêm sua função recuperadora precisamente para continuar exercendo a velha opressão como contrapartida para prevenir, que aqueles envolvidos em lutas de liberação, possam perceber a escassez de sua "liberação" dentro da ordem social atual. De tal maneira se o puritanismo e a opressão sexual tivessem sido realmente erradicados dentro do capitalismo, a escassez dos sexshops mais feministas, conscientes e amigos dos gays seria óbvia.


E assim o puritanismo continua existindo e não só como um vestígio de tempos anteriores, caídos da moda. Isto se manifesta claramente em métodos óbvios, tais como a opressão ainda vigente do matrimônio, (ou pelo menos criar uma identidade como casal) e ter uma família. Mas também se faz manifesto de forma que a maioria das pessoas não percebe, porque nunca consideraram outras possibilidades. A adolescência é a época em que os impulsos sexuais são mais fortes devido às mudanças que se produzem no corpo. Em uma sociedade sã, os adolescentes deveriam ter a oportunidade de explorar seus desejos sem medo ou censura, deveriam fazê-lo de uma forma aberta e aconselhada, se quiserem, pelos adultos.


Enquanto que os desejos intensos dos adolescentes são claramente reconhecidos (quantas vezes filmes de humor ou programas de TV se baseiam na intensidade destes desejos e na impossibilidade de explorar-los de uma forma livre e aberta) nesta sociedade, não se criam métodos para que esses desejos possam explorar-se livremente, esta sociedade os censura, fazendo uma chamada à abstinência, deixando os adolescentes ignorando seus desejos, limitando-os a masturbação ou aceitando frequentemente ter sexo rápido em situações de muita pressão e ambientes nada confortáveis para evitar assim que lhes peguem. É difícil não estranhar que algum tipo de sexualidade sã houve se desenvolvido sob estas condições.


Porque o único tipo de "liberação" sexual de utilidade para o Capital é aquela que permite preservar a pobreza sexual, e utilizará todo tipo de ferramentas para a manutenção da repressão sexual sob o engano de uma liberação fictícia. Desde que as velhas justificações religiosas para a repressão sexual deixaram de ser válidas para amplas porções da população, um medo físico pelo sexo atua agora como catalisador na criação de um novo meio para a repressão. Este medo é promovido principalmente por duas frentes. Em primeiro lugar é o meio do depredador sexual. Ataque sexual a jovens, olhar violador e a violação são fatos muito reais. Mas os meios de comunicação exageram a realidade com explicações sensacionalistas e especulações. O manejo destes assuntos por parte das autoridades e os meios de comunicação não têm como objetivo encarregar-se destes problemas, mas seguir promovendo o medo. Na realidade, os casos de violência sexual contra mulheres e crianças (e me refiro especificamente àqueles atos de violência baseados no fato de que as vítimas sejam crianças ou mulheres) são a maioria das vezes, mais freqüentes que os atos de violência sexual. Mas o sexo tem um forte valor social que concede aos atos de violência sexual uma imagem muito sinistra*. E o medo promovido pelos meios de comunicação em relação aos ditos atos reforça uma atitude social generalizada, de que o sexo é perigoso e deve ser reprimido ou pelo menos publicamente controlado.


Em segundo lugar, esta o medo às doenças sexualmente transmissíveis e em particular a AIDS. De fato, a princípios dos anos 80 o medo das doenças sexualmente transmissíveis deixou de ser em grande medida um método útil para manter as pessoas afastadas do sexo. A maioria destas doenças podia ser tratada com relativa facilidade, e as pessoas mais inteligentes se deram conta da inutilidade de utilizar preservativos na prevenção da propagação de doenças como gonorréia, sífilis e muitas outras doenças. Nesse momento se descobriu a AIDS. Havia muito que dizer sobre a AIDS, muitas perguntas teriam que ser respondidas, uma grande quantidade de negócios suspeitos (no sentido literal do termo) referentes a este fenômeno, mas a respeito do tema que estamos tratando, de novo o medo ao contágio de doenças sexualmente transmissíveis se dedica para promover a abstinência sexual, ou pelo menos que a sexualidade seja menos espontânea, menos desordenada, e gera assim encontros sexuais mais estéreis.


Em meio a tal ambiente de deformação sexual, outros fatos desenvolvem o que parece ser inevitável. Uma tendência a agarrar-nos desesperadamente àqueles com quem temos conectado, ainda que seja uma conexão empobrecida. O medo de estar sozinha, sem amor, nos conduz a nos unir com amantes quando há muito já deixamos de amá-los. Inclusive quando o sexo continua existindo na relação, provavelmente seja mecânico e ritual, e não um momento absoluto de entrega ao outro.


E claro, são aqueles que simplesmente sentem que não podem controlar completamente esta tristeza, este meio desamparado de relações artificiais e conduzido pelo medo, e por isso nunca o tentarão. Não é uma falta de desejo que impõe sua "abstinência", senão o desânimo para se vender assim mesma e uma desesperança ante a possibilidade de encontros sexuais reais. Frequentemente estes indivíduos que, no passado, se situaram na linha de busca de encontros eróticos apaixonados, intensos e foram recusados como artigos de inferior quantia. Foram apostados, os outros compraram e venderam. E perderam a esperança de manter a aposta.


Em qualquer caso, vivemos em uma sociedade que empobrece todo tipo de contato, os sexuais também. A liberação sexual - no sentido real, que é nossa liberação para explorar a plenitude, do abandono erótico carnal no outro - nunca o poderá realizar-se por completo dentro desta sociedade, porque esta sociedade necessita do empobrecimento, dos encontros sexuais coisificados, tanto como necessita que todas as interações sejam coisificadas, medidas, calculadas. Assim que os encontros sexuais livres, como cada encontro livre, só pode existir contra esta sociedade. Mas isto não é um motivo de desesperação (a desesperação depois de tudo, não é mais que o outro lado da esperança), mas sim deve conduzir-nos a uma exploração subversiva. O reino do amor é muito amplo, e existem infinitos caminhos a explorar. A tendência entre os anarquistas (pelo menos nos EUA) de reduzir as questões de liberação sexual ao mecanismo de ditas relações (monogamia, não-monogamia, poliamor, "promiscuidade", etc) deve ir mais além. Na expressão sexual livre têm cabimento tudo isto e muito mais. De fato, a riqueza sexual não tem nada haver com ambos os mecanismos (tanto as relações como os orgasmos) ou com a quantidade (o capitalismo tem provado há muito tempo que seus choros cada vez mais efetivos ainda cheiram a lixo). E sim consiste no reconhecimento de que a satisfação sexual não é exclusivamente uma questão de prazer como tal, senão concretamente de prazer que brota do encontro real e o reconhecimento, a união dos desejos e dos corpos, e a harmonia, o prazer e o êxtase que se obtém dele.


Assim, fica claro que necessitamos perseguir uns encontros sexuais como os que procuramos pra o resto de nossas relações, em total oposição a esta sociedade, não pode ser um dever revolucionário, senão porque é a única maneira possível de ter relações sexuais plenas, ricas e desinibidas na qual o amor deixe de ser uma desesperada dependência mútua e em seu lugar se transforma na exploração extensiva do desconhecido.


*O importantíssimo assunto da filosofia da inocência da infância - uma filosofia que só serve para manter as crianças no lugar que lhe corresponde nesta sociedade - também esta relacionada com isto. Mas requer um artigo em si mesmo, simplesmente para começar a abordar o tema.


A Natureza como um espetáculo - A imagem da natureza selvagem versus o selvagem





A Natureza nem sempre existiu. Ela não é encontrada nas profundezas da floresta, no coração do puma ou nas canções dos pigmeus; ela é encontrada nas filosofias e nas imagens construídas de seres humanos civilizados. Linhas aparentemente contraditórias são tecidas juntas criando uma natureza como uma construção ideológica com o propósito de nos domesticar, suprimir e canalizar as nossas expressões de natureza selvagem. 

A civilização é monolítica e o modo civilizado de conceber tudo o que é observado também é monolítico. Quando confrontada com a infinidade de seres que existem por toda a parte, a mente civilizada necessita de categorizá-los para que possa sentir que os está entendendo (apesar de, na verdade, tudo o que ela realmente está entendendo é em como fazer essas coisas úteis para a civilização). A natureza é uma das categorias civilizadas mais essenciais, uma das mais úteis em conter a natureza selvagem dos indivíduos humanos e em assegurar de que se auto-identifiquem como seres sociais e civilizados. 

Provavelmente um dos primeiros conceitos da natureza era algo similar ao que é encontrado no antigo testamento da Bíblia: a natureza selvagem maligna, um lugar de desolação habitado por bestas ferozes e venenosas, demônios maliciosos e por loucos. Esse conceito serviu a um propósito especialmente importante para as primeiras civilizações. Ele induziu o medo do que é selvagem, mantendo a maioria das pessoas dentro nos muros da cidade e dando àqueles que saíam para explorar uma postura defensiva, uma atitude de que estavam em território inimigo. Esse conceito, nesse modo, ajudou a criar a dicotomia entre "humano" e "natureza" que impede que os indivíduos vivam de modo selvagem, isto é, em termos de seus desejos. 

Mas um conceito totalmente negativo da natureza estava fadado a atingir seus limites de utilidade já que fez com que a civilização ficasse dentro de uma fortaleza fechada e sitiada, e para sobreviver a civilização tem que expandir, para poder explorar mais e mais. A "natureza" se tornou uma cesta de recursos para a civilização, uma "mãe" para ensinar a "humanidade" e sua civilização. Era bela, digna de adoração, de contemplação, de estudo...e de exploração. Não era má...mas era caótica, caprichosa e não confiável. Felizmente para a civilização, a "natureza humana" evoluiu, racional e necessitando colocar as coisas em ordem, para controlá-las. Lugares selvagens eram necessários para que as pessoas pudessem estudar e contemplar a "natureza" em seu estado intocável, mas precisamente para que seres humanos civilizados possam vir a entender e controlar os processos "naturais" para que possam utilizá-los para expandir a civilização. Então a "natureza selvagem maligna" foi ofuscada por uma "natureza" ou "natureza selvagem" que tem um valor positivo para a civilização. 

O conceito de natureza cria um sistema de valor social e moralidade. Por causa das linhas aparentemente contraditórias que se uniram no desenvolvimento da "natureza", esses sistemas também podem parecer contraditórios; mas todos eles atingem o mesmo fim: nossa domesticação. Aqueles que nos dizem para "agir civilizadamente" e aqueles que nos dizem para "agir naturalmente" estão realmente nos dizendo a mesma coisa: "Viva de acordo com os valores externos, não de acordo com seus desejos." A moralidade da naturalidade tem sido não menos odiosa do que qualquer outra moralidade. As pessoas têm sido aprisionadas, torturadas e até mortas por cometerem "atos não naturais"- e ainda são. A "natureza", também, é um deus exigente e feio. 

Desde seu princípio, a natureza tem sido uma imagem criada por uma autoridade para reforçar seu poder. Não é de se surpreender que na sociedade moderna, onde uma imagem domina a realidade e frequentemente parece criá-la, a "natureza" aparece como ela própria como um meio de manter-nos domesticados. A "natureza" mostrarem da na TV, calendários do Sierra Club, equipamentos para usar na "natureza selvagem", fibras e alimentos "naturais", o presidente "ambiental" e a ecologia "radical" conspiram para criar a "natureza", e, nosso relacionamento "apropriado" para com ela. A imagem invocada retêm aspectos da "natureza selvagem maligna" das primeiras civilizações de uma forma subconsciente. Programas sobre a "natureza" sempre incluem cenas de predação e é sabido que os diretores desses programas utilizam bastões eletrificados em tentativas de incitar os animais a lutarem. Os avisos dados aos aspirantes a exploradores da "natureza selvagem" sobre animais e plantas perigosas e a quantidade de produtos criados por lojas de equipamentos para a "natureza selvagem" para lidar com essas coisas é bem excessivo de acordo com minhas próprias experiências vagando em lugares selvagens. Eles nos dão a imagem de que a vida fora da civilização é uma luta pela sobrevivência. 

Mas a sociedade do espetáculo necessita que a "natureza selvagem maligna" seja subconsciente para poder utilizá-la eficientemente. A imagem dominante da "natureza" é a de que é um recurso e uma coisa de beleza para ser contemplada e estudada. A "natureza selvagem" é um lugar no qual nós podemos nos retirar por um curto tempo, se apropriadamente equipados, para escapar da monotonia cotidiana, para relaxar e meditar ou para encontrar excitação e aventura. E, é claro, a "natureza" permanece a "mãe" que supre nossas necessidades, o recurso no qual a civilização se cria. 

Na cultura de mercadoria, a "natureza" recupera o desejo pela aventura selvagem, pela vida livre de domesticação, ao nos vender sua imagem. O conceito subconsciente da "natureza selvagem maligna" dá ao ato de aventurar-se na floresta um forte sabor de risco que é atraente ao aventureiro e ao rebelde. Ela também reforça a idéia de que nós não realmente pertencemos nela, e então nos vendem produtos numerosos considerados necessários para incursões em lugares selvagens. O conceito positivo da natureza nos faz sentir que precisamos experimentar lugares selvagens (não se dando conta de que os conceitos que nos foram dados irão criar o que nós experimentamos pelo menos na mesma medida que nossos arredores atuais). Dessa forma, a civilização recupera com êxito até mesmo aquelas áreas que ela aparenta não ter tocado diretamente, transformando-as em "natureza", em "natureza selvagem", e em aspectos do espetáculo que nos mantém domesticados. 

"Natureza" domestica porque ela transforma o selvagem em uma entidade monolítica, uma enorme realidade separada da civilização. Expressões de coisas selvagens no meio da civilização são rotuladas como imaturidade, loucura, delinqüência, crime ou imoralidade, permitindo que sejam dispensadas, trancadas, censuradas ou punidas enquanto ainda mantendo que o que é "natural" é bom. Quando a "natureza selvagem" se torna uma realidade fora de nós mesmos ao invés de uma expressão de nossa livre energia individual, então passam a existir os especialistas em "natureza selvagem" que nos irão ensinar sobre os modos "corretos" de nos "conectarmos" com ela. Na costa oeste, existem todos os tipos de professores espirituais ganhando uma fortuna vendendo uma "natureza selvagem" para yuppies que de forma alguma ameaçam seus sonhos corporativos, seus Porsches ou seus condomínios. A "natureza selvagem" é uma indústria muito lucrativa atualmente. 

Ecologistas - até mesmo ecologistas "radicais" - caem direto nisso. Ao invés de tentarem se tornar selvagens e destruir a civilização com a energia de seus desejos desencadeados, eles tentam "salvar a natureza selvagem". Na prática, isso significa implorar ou tentar manipular as autoridades para pararem com as atividades mais danosas de certas indústrias e de ganharem dinheiro de florestas, desertos e montanhas relativamente não danificadas em “Áreas Selvagens” protegidas. Isso apenas reforça o conceito de natureza selvagem como uma entidade monolítica, de uma "natureza selvagem" ou uma "natureza", e a inerente transformação em mercadoria desse conceito. A base do conceito de uma "Área Selvagem" é a separação do "selvagem" e da "humanidade". Então não é de se surpreender que uma das variedades da ideologia da ecologia "radical" criou o conflito entre "biocentrismo" e "antropocentrismo" - apesar de que não somos mais do que egocêntricos. 

Até mesmo aqueles "ecologistas radicais" que dizem querer reintegrar as pessoas na "natureza" estão se enganando. Suas visões (de acordo com o que um deles disse) de um "todo simbiótico e selvagem" é apenas o conceito monolítico criado pela civilização expressado de um modo quase que místico. A "natureza selvagem" continua a ser uma entidade monolítica para esses místicos ecológicos, um ser maior que nós, um deus a quem nós devemos nos submeter. Mas submissão é domesticação. Submissão é o que mantém a civilização existindo. O nome da ideologia que reforça a submissão pouco importa - que seja "natureza", que seja um "todo simbiótico e selvagem". O resultado ainda será a continuação da domesticação. 

Quando a natureza selvagem é vista sem ter qualquer relação com um conceito monolítico, incluindo "natureza" ou "natureza selvagem", quando é vista como a livre energia potencial em indivíduos que podem se manifestar a qualquer momento, só então se torna uma ameaça à civilização. Qualquer um de nós poderia passar anos na "natureza selvagem", mas se continuarmos a ver o que nos cerca pela lente da civilização, se nós continuarmos a ver a infinidade de seres monoliticamente como "natureza", como "natureza selvagem", como o "todo simbiótico e selvagem", nós ainda seríamos civilizados. Nós não seríamos selvagens. Mas se, no meio da cidade, em qualquer momento nós ativamente recusamos nossa domesticação, recusamos ser dominados pelos papéis sociais que nos são forçados e ao invés disso vivamos nos termos de nossas paixões, desejos e caprichos, se nós nos tornamos os seres únicos e imprevisíveis que repousam escondidos por trás de nossas funções, nós somos, naquele momento, selvagens. Jogando ferozmente entre as ruínas de uma civilização decadente (mas não se engane, mesmo na decadência ainda é um inimigo perigoso e capaz de manter-se por um longo tempo), nós podemos fazer das tripas coração para derrubá-la. E os rebeldes livres de espírito irão rejeitar o sobrevivencialismo da ecologia como mais uma tentativa da civilização de conter a vida livre, e irão se esforçar para viverem a dança caótica e sempre em mudança de indivíduos únicos e de relacionamentos livres em oposição a tanto à civilização quanto à tentativa da civilização de conter o modo de vida livre e selvagem: a "Natureza". 

Luta de Classes e Luta Política



A grande indústria aglomera num mesmo local uma multidão de pessoas que não se conhecem. A concorrência divide os seus interesses. Mas a manutenção do salário, este interesse comum que têm contra o seu patrão, os reúne num mesmo pensamento de resistência - coalizão. A coalizão, pois, tem sempre um duplo objetivo: fazer cessar entre elas a concorrência, para poder fazer uma concorrência geral ao capitalista. Se o primeiro objetivo da resistência é apenas a manutenção do salário, à medida que os capitalistas, por seu turno, se reúnem em um mesmo pensamento de repressão, as coalizões, inicialmente isoladas, agrupam-se e, em face do capital sempre reunido, a manutenção da associação torna-se para elas mais importante que a manutenção do salário. [...] Nessa luta - verdadeira guerra civil -, reúnem-se e se desenvolvem todos os elementos necessários a uma batalha futura. Uma vez chegada a esse ponto, a associação adquire um caráter político.
As condições econômicas, inicialmente, transformaram a massa do país em trabalhadores. A dominação do capital criou para essa massa uma situação comum, interesses comuns. Essa massa, pois, é já, em face do capital, uma classe, mas ainda não o é para si mesma. Na luta, [...], essa massa se reúne, se constitui em classe para si mesma. Os interesses que defende se tornam interesses de classe. Mas a luta entre classes é uma luta política.
[...]Uma classe oprimida é a condição vital de toda sociedade fundada no antagonismo entre classes. A libertação da classe oprimida implica, pois, necessariamente, a criação de uma sociedade nova. Pra que a classe oprimida possa libertar-se, é preciso que os poderes produtivos já adquiridos e as relações sociais existentes não possam mais existir uns ao lados de outras. De todos os instrumentos de produção, o maior poder produtivo é a classe revolucionária mesma. A organização dos elementos revolucionários como classe supõe a existência de todas as forças produtivas que poderiam se engendrar no seio da sociedade antiga.
Isso significa que, após a ruína da velha sociedade, haverá uma nova dominação de classe, resumindo-se em um novo poder político? Não. A condição da libertação da classe laboriosa é a abolição de toda classe, assim como a condição da libertação do terceiro estado, da ordem burguesa, foi a abolição de todos os estados [aqui, estado significa as ordens da sociedade feudal] e de todas as ordens.
A classe laboriosa substituirá, no curso do seu desenvolvimento, a antiga sociedade civil por uma associação que excluirá as classes e seu antagonismo, e não haverá mais poder político propriamente dito, já que o poder político é o resumo oficial do antagonismo na sociedade civil.
Entretanto, o antagonismo entre o proletariado e a burguesia é uma luta de uma classe contra outra, luta que, levada à sua expressão mais alta, é uma revolução total. [...] Não se diga que o movimento social exclui o movimento político. Não há, jamais, movimento político que não seja, ao mesmo tempo, social.
Somente numa ordem de coisas em que não existam mais classes e antagonismos entre classes as evoluções sociais deixarão de ser revoluções políticas. Até lá, às vésperas de cada reorganização geral da sociedade, a última palavra da ciência social será sempre: "O combate ou a morte: a luta sanguinária ou nada. É assim que a questão está irresistivelmente posta".

Há que acabar com tudo isto



A atual realidade está formada, como nunca esteve, de imensas penas e de cinismo: uma grande lágrima no coração da humanidade. O quotidiano vê aumentar a sua dose de horrores sem cessar acompanhada por um apocalipse rompante do meio ambiente. A alienação dos espíritos e os poluentes químicos disputam o predomínio na dialética da morte que rege a vida de uma sociedade dividida e gangrenada pela tecnologia. O cancro, desconhecido antes da civilização, transformou-se numa epidemia numa sociedade cada vez mais estéril e literalmente tumorosa.

Repentinamente, todos consumiremos drogas; sejam administradas sob regras ou vendidas sob contrabando, isto apenas é uma distinção formal. A terapia dos transtornos de cuidados oferece outro exemplo da tendência coercitiva da medicamentação da angústia e a agitação generalizada, que gera uma realidade cada vez mais frustrante. A ordem dominante fará, evidentemente, todo o possível por negar a realidade social. A sua tecnopsiquiatria considera o sofrimento humano como de natureza biológica e de origem genética.

Novas patologias, resistentes à medicina industrial estendem-se à escala planetária da mesma forma que o fundamentalismo religioso - sintoma de frustração e de profunda miséria psíquica. E à espiritualidade New Age (a filosofia para uso "dos caranguejos", segundo Adorno), assim como as inumeráveis terapias paralelas deleitam-se em vãs ilusões. Pretender que se pode estar íntegro, esclarecido e em paz no seio da loucura atual é, de fato, aceitar esta loucura.

O fosso entre ricos e pobres alarga-se, particularmente neste país onde os sem-teto e os presos contam-se por milhões. A cólera aumenta e as mentiras da propaganda que fundamentam a sua sobrevivência não encontram já a mesma credibilidade. Este mundo, onde reina a falsidade, encontra apenas a adesão que merece: a desconfiança em direção às instituições é quase absoluta. Mas a vida social parece congelada, e o sofrimento dos jovens é sem dúvida o mais profundo. A taxa de homicídios entre adolescentes de 15 a 19 anos duplicou entre 1985 e 1991. O suicídio transformou-se em reação de procura de cada vez mais adolescentes, que não encontram forças para alcançar a idade adulta num inferno como este.

A nossa época pós-moderna encontra a sua expressão essencial no consumo e na tecnologia, que dão aos mass media a sua força estupefaciente. Imagens e slogans impactantes e fáceis de digerir impedem de ver o espetáculo terrorífico da dominação que repousa essencialmente sobre a simplicidade das representações. Inclusive os enganos mais flagrantes da sociedade podem servir para esta empresa de hipnose coletiva, como é o caso da violência, fonte de infinitas diversões. Seduzem-nos as representações de comportamentos ameaçantes, pois o aborrecimento é uma tortura maior que o espanto. A natureza, ou o que resta dela, reprova-nos amarguradamente o modo em que a existência atual está pervertida, frígida e adulterada. A morte do mundo natural e a penetração da tecnologia em todas as esferas da vida desenvolve-se a um ritmo cada vez mais rápido. A multidão informaticamente enlaçada, os marginais tecnóides, os ciber-não-importa-quê, a realidade virtual, a inteligência artificial... Até chegar à vida artificial, última ciência pós-moderna. Entretanto, a nossa Era da Computação "pós-industrial", tem com principal conseqüência a nossa transformação acelerada num "apêndice da máquina", como se dizia no século XIX. As estatísticas da administração judicial indicam, todavia, que as empresas, cada vez mais informatizadas, são o teatro de cerca de um milhão de delitos violentos por ano, e que o número de patrões assassinados duplicou nos 10 últimos anos.

O sistema, na sua atroz arrogância, espera que as suas vítimas se conformem votando e reciclando os seus resíduos, fazendo-lhes crer que tudo irá muito bem. O espectador é somente suposto, não tem de saber nada e não merece nada.

A civilização, a tecnologia e as divisões que dilaceram a sociedade, são componentes de um todo indissolúvel. Uma carreira para a morte, fundamentalmente hostil às diferenças qualitativas. A nossa resposta terá de ser qualitativa, sem fazer caso dos eternos paliativos quantitativos que reforçam, de fato, aquilo que queremos abolir.

O corpo e a revolta

A historia da civilização ocidental pode ser lida como o empreendimento sistematico em excluir e isolar o corpo. 
De Platão adiante, o corpo tem sido visto através dos tempos como loucura para ser controlada, impulsos para serem reprimidos, força de trabalho para organizar, e inconsciente para a psicanalise. 

A separação platonica entre o corpo e mente, uma separação para a total vantagem desta ultima ("o corpo é a tumba da mente"), acompanha até mesmo as aparentes expressões dos pensamentos mais radicais. 

Hoje, esta tese é apoiada em numerosos textos filosoficos, todos exceto aqueles hostis a rarefeita e insalubre atmosfera das universidades. Uma leitura de Nietzche e autores como Hannan Arendt tem encontrado sua apropriada sistematisação escolastica (psicologia fenomenologica, idéia de diferença, um modo de"por de lado"). 
Entretanto, ou devido a isto, nao me pearece que este problema e suas implicações, que são muitas e fascinantes, têm sido consideradas com profundidade. 

Uma profunda libertação do individuo integra uma igual e profunda transformação do modo de conceber o corpo, sua expressão e suas relações. 

Devido a uma herança bem treinada de guerra cristã, somos levados a acreditar que a dominação controla e expropria uma parte do ser sem danificar o seu intimo (e muito poderia ser dito sobre a divisao entre um suposto ser intimo e as relações externas). É claro, relações capitalistas e imposições estatais adulteram e poluem a vida, mas pensamos que a percepção de nós mesmos e do mundo permanecem inalteradas. Portanto mesmo quando imaginamos um rompimento radical com o existente, estamos claros de que é o nosso corpo que nos torna presente. 

Eu penso, em vez disso, que nosso corpo tem sofrido e continua a sofrer uma terrivel mutilação. E não apenas devido aos aspectos obvios do controle e alienação determinadas pela tecnologia. 
(Que os corpos têm sido reduzidos a reservatórios de orgãos está claramente evidente pelo triunfo da ciencia dos transplantes, o que é descrito com um insidioso eufemismo "fronteria da medicina". Mas para mim a realidade me parece muito pior do que as especulações farmaceuticas e a ditadura da medicina como mostra um corpo separado e poderoso.) 
O alimento, o ar, as relações diárias tem atrofiado nossos sentidos. 
A insensatez do trabalho, a sociabilidade forçada, a terrivel materialidade da conversa forçada e a toa, regimentam o pensamento e o corpo, visto que nenhuma separação é possivel entre eles. 

O doce cumprimento da lei, os canais que aprisionam, cujo os desejos, que por tal captividade realmente se transformam em tristes monstros deles mesmos, sao fraquesas anexados ao organismo assim como a poluição ou a mediação forçada. 

"moralidade é exaustão" - disse Nietzsche. 

Afirmar a propria vida, e tal exuberância que demanda ser dada, integra as transformações dos sentidos assim como a transformação das ideias e das relações. 

Frequentemente vejo as pessoas como belas, mesmo fisicamente, aquelas que pareciam para mim insignificantes até um momento. Quando você está projetando sua vida e testa a si mesmo, juntamente com alguem, numa possivel revolta , você ve em sua companhia individuos maravilhosos, e não mais as faces e corpos tristes que extinguem sua luz em habitos e coerção. Acredito que tais individuos estão se tornando realmente belos (e nao porque simplesmente os vejo como tais) no momento em que eles expressam seus desejos e vivam suas idéias. 

A determinação etica de alguem que abandona e ataca as estruturas de poder é uma percepção, um momento no qual se experimenta a beleza dos companheiros e a miséria das obrigações e da submissão. 
"Eu me revolto, portanto eu existo" é uma frase de Camus que nunca para de me encantar como uma razão unica pela qual a vida pode ter. 

Face a um mundo que apresenta etica como o espaço da autoridade e da lei, eu penso que não existe dimensão etica a nao ser na revolta, no risco, no sonho. A sobrevivencia na qual somos confinados é injusta porque brutaliza e torna feio. 

Apenas um corpo diferente pode perceber a visão ampla da vida que se abre ao desejo* e a mutualidade, e apenas um esforço em direção ao maravilhoso e ao desconhecido pode libertar nossos corpos acorrentados. 

Culto do gênio por vaidade





Porque pensamos bem de nós, mas no entanto não esperamos de nós que possamos alguma vez fazer o esboço de uma pintura de Rafael ou uma cena tal como a de um drama de Shakespeare, persuadindo-nos de que a faculdade para isso é maravilhosa, acima de todas as medidas um raríssimo acaso, ou, se ainda temos sentimento religioso, uma graça do alto. Assim, nossa vaidade, nosso amor-próprio, propiciam o culto do gênio: pois somento quando este é pensado bem longe de nós, como um miraculum, ele não fere (mesmo Goethe, o sem inveja, denominava Shakespeare sua estrela da altura mais longínqua; a propósito do que, se poderia lembrar o verso: “As estrelas, essas não se desejam“). Mas, sem levar em conta essas insinuações de nossa vaidade, a atividade do gênio não aparece de modo algum como algo fundamentalmente diferente da atividade do inventor mecânico, do erudito em astronomia ou história, do mestre de tática. Todas essas atividades se explicam quando se tem em mente homens cujo pensar é ativo em uma direção, que utilizam tudo como material, que sempre consideram sua vida interior e a de outros com empenho, que por toda parte vêem modelos, estímulos, que nunca se cansam de combinar seus meios. O gênio também nada faz a não ser aprender, primeiro, a pôr pedras, em seguida a edificar, procurar sempre pôr material e sempre modelar nele. Toda atividade do homem é complicada até o miraculoso, não somente a do gênio: mas nenhuma é um “milagre”. – De onde então a crença de que somente em artistas, oradores e filósofos há gênio? De que somente eles têm “intuição”? (com o que se atribui a eles uma espécie de óculos milagrosos com que vêem diretamente dentro da essência!). Os homens, evidentemente, só falam do gênio ali onde os efeitos do grande intelecto lhes são mais agradáveis, e eles, por sua vez, não querem sentir inveja. Denominar alguém “divino” quer dizer: “aqui não precisamos rivalizar”. Depois: tudo que está pronto, perfeito, é admirado, tudo o que vem a ser é subestimado. Ora, ninguém pode ver, na obra do artista, como ela veio a ser; essa é sua vantagem, pois por toda parte onde se pode ver o vir-a-ser há um certo arrefecimento. A arte consumada da exposição repele todo pensamento do vir-a-ser; tiraniza como perfeição presente. Por isso os artistas da exposição são considerados geniais por excelência, mas não os homens de ciência. Em verdade, aquela estima e esta subestimação são apenas uma infantilidade da razão. 

Isto aqui, isso ali...

O mundo intelectual ortodoxo sustenta atualmente a idéia de que a civilização, em suas inúmeras relações sociais/econômicas/políticas, existe como meio para que o homem possa exercitar sua capacidade criativa e etc - arte, ciência; cultura. 
Claro que 'eles' sabem que um 'certo grupo de pessoas', confinado a um certo regime meio neo-escravocrata, não pôde escolher se iria ou não contribuir - especialmente de forma tão desagradável - no tal belo mundo do Engenho Humano. 
(Engraçado pensar que o 'certo grupo de pessoas', os contribuintes colocados na posição mais indesejável da coisa, são os que estão mais longe de levar uma vida artística ou regada com os frutos da ciência). 
Mas 'o mundo intelectual' parece ter a consciência limpa. Por mais dissimuladas que sejam as opiniões, existe um certo consenso de que o burguês é uma boa pessoa, humana. Ele, ao mesmo tempo que procura defender a produção cultural, com certeza se sensibiliza e se sente absolutamente desgostoso frente aos problemas sociais e injustiças do mundo. 
Tão estrondoso exemplo de altruísmo atinge seu ápice quando o indivíduo se inicia no intrincadíssimo mundo político, filosófico e econômico (os pobres pelos quais Ele luta nunca entenderiam esse chato mundo de frações, tabelas e cotações - o que torna nosso justiceiro uma figura ainda mais romântica). 
Ou seja, se inicia a carreira intelectual acadêmica e as discussões: são artísticas, científicas, econômicas, sociais, filosóficas... Nosso herói passa a entender ainda mais sobre a história do nosso País e seu sofrido povo; estuda Sartre e seu Existencialismo e Descartes e seu Penso, logo existo (ou seria Penso, logo não faço?). 
Ele vai lutar por leis mais justas, imprensa mais séria e essas coisas todas. Talvez até se filie a algum partido - provavelmente um daqueles progressistas cheios de Marx. 
É assim que Ele ajuda o Povo. 
Apenas algum tipo de pessoa dominada por forças malignas duvidaria disso, e começaria a arquitetar idéias absurdas de que aquela conversa bonitinha de "cultura + luta = futuro melhor" na verdade é "cultura + enrolação - vergonha na cara = estagnação/microondas". 
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Pessoas que, assim como eu, estão envolvidas num simples sentimento de crítica profunda, sabem qual é o drama do tópico ?solução? em suas vidas. Muito se diz a respeito de pessoas dotadas com esse tipo de descrença; Diz-se que gastam todo o seu tempo em críticas destrutivas, mas que pouco falam ou propõe a respeito da solução dos problemas. 
Para nós, propor uma solução é mesmo uma coisa rara, devido à tal descrença. Descrença que se dá ante quase todas as coisas - ou seja, todas as coisas que envolvem o coletivismo. 
Os que nos pedem soluções parecem esperar algum tipo de idéia - que, aliás, se transforma facilmente em uma ideologia - que crie um mundo onde seja possível ao homem ao mesmo tempo exercitar sua individualidade em plenitude e explorar suas potencialidades da maneira mais eficiente (cultura?). Algum tipo de organização utópica, um anarquismo cooperativista, acho. 
Essas pessoas, que acreditam no coletivismo, deviam elas mesmas (boa sorte e que a paz esteja com você!) buscar uma forma de interação onde o homem não seja tão imbecil: basta colocar algumas pessoas juntas e esperar os prováveis danos que o individual sofrerá. 
Eu arriscaria dizer que a maior habilidade inerente aos homens estão claras nos diversos casos de estupidez que surgem das ainda mais diversas formas de agrupamentos que já fomos capazes de imaginar. 
Não. Nós não vamos procurar soluções paliativas para os muitos problemas que surgiram dessa desastrada civilização; apenas conspirando para a criação de novos problemas que exijam novas soluções, como se algum dia fôssemos esgotar uma lista de ?lições a aprender? e pudéssemos enfim construir nossa utopia de humanidade perfeita. 
Então, o que fazer? Nos encaram duas possibilidades: 
Ou não existe mais espaço para atuação individual nesse mundo policiado e lotado ou falta o verdadeiro compromisso para fazer o que o pensamento radical em cada um propõe, em sua concepção própria (concepção talvez até influenciada pelo coletivo). 
Esse medo de um futuro incerto talvez possa ser superado apenas por um perfeito reto pensar e reto sentir, quando o indivíduo deixaria de ceder às futilidades e facilidades oferecidas pela vida irresponsável onde cada um se apóia no Outro. 
Ou seja, a energia que nasce do pensamento radical não seria mais compensada em fatores externos. Iríamos passar finalmente para a etapa da atitude radical e poderíamos parar de chorar nossa própria hipocrisia.

A crise do pseudomarxismo




Desde o início do século 20 se fala em uma “crise do marxismo”. Apesar disso, ele continua vivo, tanto que toneladas de tinta são gastas em textos sobre sua crise. Então, se o marxismo continua vivo, há sentido em se falar de uma crise? Mas, inversamente, poder-se-ia dizer que não existe nenhuma crise no marxismo e que ele está tão forte quanto antes?

Para respondermos a estas questões, precisamos, antes, definir os conceitos utilizados, ou seja, é preciso esclarecermos o que entendemos por “crise” e por “marxismo”. Gramsci define crise como sendo um período histórico em que o velho está em estado de perecimento e o novo ainda não pode surgir. Para ele, pensando em termos históricos, o velho é a estrutura econômica estabelecida e o novo é a nova estrutura que irá substituí-la e que se expressa, inicialmente, no plano da ideologia. Está é uma definição demasiadamente estreita, pois cria uma ligação indissolúvel entre “base” e “superestrutura” e por isto este “modelo” se torna inaplicável a certos aspectos da realidade.

A definição de crise fornecida por Habermas é muito mais ampla e útil. Para Habermas, uma crise ocorre quando um sistema encontra dificuldades em se reproduzir. Esta definição, porém, também possui limitações, pois, além da utilização da noção de “sistema”, que é problemática, a idéia de crise perde toda sua radicalidade e até mesmo sua utilidade, já que o marxismo e o capitalismo, entre outros exemplos, apresentam, como uma de suas características, o fato de possuírem dificuldades em realizar sua reprodução.

A definição de Habermas pode servir como ponto de partida para uma outra que consiga apreender o significado deste fenômeno. Sendo assim, sugerimos que o conceito de crise expressa uma situação onde um determinado ser (utilizamos esta categoria em substituição à noção de sistema utilizada por Habermas) encontra dificuldades cada vez maiores para se reproduzir. Portanto, aplicando esta definição de crise ao marxismo, podemos dizer que ele só pode entrar em crise quando suas dificuldades de reprodução se tornam maiores que as que lhe são comuns.

E isto vem ocorrendo atualmente com o marxismo? Para responder a esta questão é necessário anteriormente definir o que é o marxismo. A melhor definição do marxismo, a nosso ver, foi a fornecida por Karl Korsch: ele é uma expressão teórica do movimento operário. Portanto, só pode ser considerado marxismo a teoria que seja expressão do movimento operário e isto exclui, evidentemente, tanto o “marxismo” acadêmico quanto o “marxismo” dos partidos e dos regimes de capitalismo de estado da Rússia e leste europeu. Estes “marxismos” são, na verdade, formas de deformação do marxismo e são justamente estas ideologias pseudomarxistas que estão em crise e não o marxismo autêntico.

Essa idéia de crise do marxismo se reflete nas academias e nos partidos políticos porque, de fato, existe uma crise no pseudomarxismo produzido e reproduzido nestes lugares. Marx dizia que a “ideologia dominante é a ideologia da classe dominante” e, sendo assim, as idéias das classes exploradas são marginais. Isto significa que o marxismo autêntico é um marxismo marginal – ele fica à margem das academias, do estado e dos partidos políticos.

Como a classe trabalhadora não possui os “meios de produção espiritual” (Marx), existe uma dificuldade enorme para o marxismo autêntico se reproduzir. Nos momentos históricos em que a classe trabalhadora se autonomiza, desvencilhando-se de “sua” burocracia, e começa a generalizar a autogestão de suas lutas, o marxismo passa a ter uma penetração maior na sociedade e, por isso, a classe dominante e as suas classes auxiliares buscam deformá-lo para retirar-lhe sua eficácia política.

Essa deformação, entretanto, não é, na maioria dos casos, realizada intencionalmente, pois é produto do modo de vida, dos interesses e da visão de mundo daqueles que reinterpretam o marxismo, mudando o seu caráter de classe, o que significa deformá-lo. O marxismo marginal se reproduz através da obra de indivíduos e grupos políticos não-burocráticos que buscam desenvolver e atualizar a teoria produzida por Karl Marx.

O que faz, então, o “marxismo” acadêmico e o “marxismo” dos partidos políticos e dos países pseudo-socialistas entrar em crise? A discussão em torno da “crise do marxismo”, desde o início do século, gira em torno de duas explicações: a) a “crise do marxismo” é produto das “antinomias do pensamento de Marx”, que ora enfatiza a “estrutura”, ora o “sujeito” ou, então, ora dizia que a transformação social seria resultado do desenvolvimento das forças produtivas, ora colocava que ela é produto da luta operária; b) a “crise do marxismo”, para outros, é uma conseqüência da “crise do movimento operário”.

Desde Rosa Luxemburgo, em 1903, passando por Sorel, Korsch, Deutscher, até chegar a autores contemporâneos como André Gorz, Agnes Heller, Perry Anderson e E. Laclau, a análise da “crise do marxismo” oscila entre uma ou outra destas explicações. Mas, hoje, existe um outro motivo para a atual versão da crise: a derrocada dos regimes “socialistas” da Rússia e Leste Europeu e a vitória do neoliberalismo.

A crítica ao neoliberalismo e o questionamento ao seu “sucesso” já foram feitas muitas vezes e não cabe aqui retomarmos a questão da atual “crise do capitalismo”. Trataremos somente da questão da “crise do socialismo real”. Devemos ressaltar que a Rússia e o Leste Europeu nunca foram socialistas. O marxismo autêntico, pouco conhecido por ser marginal, tanto no interior da Rússia quanto no resto do mundo, sempre caracterizou a Rússia como um capitalismo de estado. Basta citar alguns nomes de representantes do marxismo marginal que defenderam tal tese: Amadeo Bordiga, Otto Rühle, Helmutt Wagner, A. Rosemberg, A. Cilliga, Anton Pannekoek Isto sem falar em pseudomarxistas (como Tony Cliff e Charles Bettelheim, um trotskista e outro maoísta) que, de forma diferente chegaram a mesma conclusão e só por ignorância se pode falar que a teoria do capitalismo de estado é uma “tese maoísta” (mesmo porque a China de Mao Tse-Tung também consiste num capitalismo de estado).

Se os partidos políticos que tinham a URSS como “modelo de socialismo” entram em crise, isto acaba se refletindo nas academias. Ocorre um desencadeamento simultâneo da crise do “marxismo” e “socialismo”. Acontece que a situação fica mais difícil para o “marxismo” acadêmico com o ataque que lhe é dirigido pela ideologia “pós-moderna” (na verdade, pré-moderna). Isto cria uma discussão acadêmica estéril que não leva a lugar algum e, no final das contas, nenhuma das duas ideologias se refere ao marxismo, seja para atacá-lo, seja para defendê-lo, e sim as deformações dele.

Portanto, essas são as razões da crise do pseudomarxismo. Este, com ou sem crise, vai continuar existindo, enquanto o marxismo autêntico existir (pois este é a causa geradora daquele) e esta existência, por sua vez, está garantida, na sua atual forma, enquanto houver a classe trabalhadora e suas lutas, ou seja, enquanto não se encerra a “pré-história da humanidade” e se inicia sua história ou, em outras palavras, até quando permanecer a dominação capitalista e não se instaurar a autogestão social.

"Em que sentido o Homem possui um poder crescente sobre a Natureza?



Consideremos três exemplos típicos: o avião, o rádio e os anticoncepcionais. Numa comunidade civilizada, em tempos pacíficos, qualquer um que tenha dinheiro pode fazer uso dessas três coisas. Mas não se pode dizer estritamente que quem o faz está exercendo seu poder pessoal ou individual sobre a Natureza. Se eu pago para que alguém me leve a algum lugar, não se pode dizer que eu seja um homem que dispõe de poder. Todas e cada uma das três coisas que mencionei podem ser negadas a alguns homens por outros homens — por aqueles que vendem, ou por aqueles que permitem que sejam vendidas, ou por aqueles que possuem os meios de produzi-Ias, ou por aqueles que as produzem. Aquilo que chamamos de poder do Homem é, na realidade, um poder que alguns homens possuem, e que por sua vez podem ou não delegar ao resto dos homens. Novamente, no que se refere ao poder do avião ou do rádio, o Homem é tanto o paciente ou o objeto como o possuidor de tal poder, uma vez que ele é o alvo tanto das bombas quanto da propaganda. E, quanto aos anticoncepcionais, existe paradoxalmente um sentido negativo no qual todas as possíveis gerações futuras são os pacientes ou objetos de um poder exercido por aqueles que já vivem. Pela contracepção enquanto tal, simplesmente lhes é negada a existência; pela contracepção usada como meio de reprodução seletiva, são obrigados a ser, sem que ninguém os consulte, o que uma geração, por suas próprias razões, vier a escolher. Sob esse ponto de vista, o que chamamos de poder do Homem sobre a Natureza se revela como um poder exercido por alguns homens sobre outros, com a Natureza como instrumento.