A aprovação do novo código florestal revela um panorama extremamente obscuro da política partidária brasileira. Depois da sopa de letrinhas que revelou a ineficiência e a mesquinhez do jogo político entre as siglas, fica a confusão na práxis política parlamentar.
Torna-se cada dia mais evidente a inviabilidade de uma mudança no cenário social brasileiro por meio de uma política burocrata subalterna a um lobby latifundiário e de uma elite econômica reguladora das transformações no âmbito político e econômico. Herdeiros e complacentes dos oligopólios e ditaduras cotidianas defendem interesses regionais burgueses ou internacionais imperialistas.
O problema é que a esquerda emergente de base de governo assume essa posição, enquanto a famigerada direita, camuflada por um ambientalismo falso e de uma bandeira verde digna de Al Gore (expoente maximo do ecodiotismo e da ideologia globalizadora de um protecionismo interesseiro) são os mártires defensores da sagrada Amazônia-mundial.
Aqui não cabe o cansativo e repetitivo debate sobre a conjectura partidária brasileira, suas contradições e criminalizações, mas sim novo ópio do povo, parafraseando Marx, a ecologia.
É precisamente no terreno da ecologia que podemos delinear a demarcação entre a política da emancipação e a política do medo na sua forma mais pura. De longe, a versão predominante da ecologia é a da ecologia do medo - medo da catástrofe, humana ou natural, que pode perturbar profundamente ou mesmo destruir a civilização humana. Essa ecologia do medo tem todas as oportunidades de se converter na forma ideológica predominante do capitalismo global, um novo ópio das massas que sucede o da religião.
Assume a função fundamental da religião, aquela de impor uma autoridade inquestionável que estabelece todo limite. Apesar de os ecologistas exigirem permanentemente que mudemos radicalmente nossa forma de vida, é precisamente isso que subjaz a essa exigência no seu oposto, isto é, uma profunda desconfiança em relação à mudança, em relação ao desenvolvimento, em relação ao progresso: cada transformação radical pode conter a consequência inestimada de detonar uma catástrofe. É exatamente essa desconfiança que converte a ecologia em um candidato ideal para tomar o lugar de uma ideologia hegemônica, pois faz eco da desconfiança em relação aos grandes atos coletivos.
Leonado Boff, um dos maiores expoentes e também fundador do Partido dos Trabalhadores brasileiros, chega a declarar tal pérola: “Não confiemos muito nos partidos.Eles são sempre parte e nós queremos o todo. Política não é busca comum do bem comum,mas busca de interesses”, ou seja, renega seu passado de engajamento na causa partidária, histórica por sinal, para emergir numa concepção anarco de prática política.
Permita-me abrir outro parênteses para outro acontecimento de hoje, Eduardo Galeano um dos maiores intelectuais de esquerda da América latina que comenta do Chile, aonde está em andamento um movimento contra as privatizações( ou seja, mercantilizações de recursos naturais de minas e a luta pela reconhecimento de terras dos índios mapuches), uma frustração com a juventude que segundo ele: "Há hoje em quase toda a América Latina um problema visível e preocupante que é o divórcio entre os jovens, as novas gerações, e o sistema político, o sistema de partidos vigente. Eu não reduziria a política à atividade dos partidos, por que ela vai muito mais além, mas isso é preocupante mesmo assim".
Apesar do reconhecimento da univocidade do sistema político vigente, ele alerta que a juventude se encontra perdida e desiludida com decisões reacionárias, e por isso, se afasta da política.
Aí que entra o panorama nefasto da mobilização dos ecologistas de ONGs e organizações internacionais de ideologias neoliberais. A ecologia atual transcende o cenário parlamentar para dá entrada numa forma nova de práxis política, para levar a juventude, desiludida, para um movimento segundo eles legitimo e nobre.
Os argumentos da preservação do planeta terra contra a ação humana capitalista, viram um mecanismo de agregação e iniciação política.
Em suma, um rosseaunismo tolo, expresso no novo retorno à natureza: hippie chic pós-moderno que agrega jovens ingênuos comprometido com causas de defesa ao planeta, não sabem os mobilizados, que fazem parte de uma ação imperialista e neocolonial que utiliza como argumento de introdução aos recém-chegados exatamente a falha política das suas gerações (a exemplo Boff, Sader e outros intelectuais de esquerda) para uma nova ação micro e ilusória.
Boff sustenta mais tarde que: “Enquanto não mudar nossa relação com a Terra seguirá a devastação.Nós precisamos dela, ela não precisa de nós.Por isso temos que preservá-la”, enaltecendo a utopia de uma via revolucionária por meio da farsa ecológica, com apelo direcionado aos novos jovens que adentram organizações ambientais e outros frustrados com a política partidária (vide a votação pelo novo código florestal).
Slavoj Zizek, um filósofo esloveno cria a tese da impossibilidade uma recuperação ou mesmo salvamento da natureza enquanto natureza:
A “natureza” como condição de domínio, de reprodução balanceada, de implantação orgânica dentro da qual intervém a humanidade com a sua desmedida, destruindo brutalmente sua moção circular, não é outra coisa que a fantasia do ser humano; a natureza já é de fato uma “segunda natureza”, seu equilíbrio é sempre secundário, trata-se de uma tentativa de negociar um “hábito” que restauraria alguma ordem depois das intervenções catastróficas. A lição que devemos colher é a de que, se não podemos estar seguros de qual será o resultado final das intervenções humanas na biosfera, uma coisa é certa: se a humanidade detivesse abruptamente sua imensa atividade industrial e deixasse que a natureza tomasse seu curso equilibrado, o resultado seria uma ruptura total, uma catástrofe inimaginável.
A “natureza” na Terra está tão adaptada às intervenções humanas, a “contaminação” humana está a tal ponto incluída no frágil e instável equilíbrio da reprodução “natural”, que a interrupção intempestiva da ação humana causaria um desequilíbrio catastrófico. É isso precisamente que demonstra que a humanidade não tem como retroceder: não só não há um “grande Outro” (uma ordem simbólica autocontida que seja a última garantia do significado), assim como também não existe uma natureza que contenha uma ordem equilibrada ou de autoprodução e cujo equilíbrio tenha sido perturbado e descarrilado pela intervenção humana desbalanceada. Não só o grande Outro tem sido “gradeado”, a natureza também.
A prática do ecologista bobo é em doses homeopáticas, a reciclagem por mais interessante e nobre que possa a ser, deixa o indivíduo acomodado na sociedade de espetáculo, como se que a prática cotidiana de compra de alimentos orgânicos, reciclagem, e carros eco-sustentáveis o colocassem como um ser político e revolucionário, o que de fato, é mais um produto da sociedade capitalista de acomodação e alienação.
Um sistema que implanta “ecobags” para o lucro de empresários. Carros novos sem poluição para o lucro da indústria automobilística e por ai vai..
Por fim, não defendo uma retirada ao pensamento ambientalista nem protecionista de nossos recursos naturais, além disso, me posiciono contra o mecanismos neoliberais que transformam ações políticas em produtos de mercado que ajudam as grandes corporações, tais como a alienação de jovens em organizações “verdes” paliativas até planos megalomaníacos e ridículos de “desenvolvimento sustentável” e o conceito de “sustentabilidade” ou “florestania” para mascarar planos financeiros de invasão imperialista.
A discussão de prática e estratégia revolucionária da juventude tem que se dar em outra esfera, não parlamentar e partidária, isso eu concordo, mas numa política de ação direta nas ruas e autogestão, como o que acontece neste momento na Grécia e na Espanha.