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Nessas circunstancias, deveríamos ser especialmente cuidadosos para nao confundir a ideologia dominante com a ideologia que parece dominar. Mais do que nunca, deveríamos ter em mente o lembrete de Walter Benjamin de que nao basta perguntar como uma certa teoria ( ou arte) se posiciona perante as lutas sociais - deveríamos perguntar também como, na pratica, ela funcionas dentro dessas lutas. 

Realmente, como o funcionamento "normal" do capitalismo envolve algum tipo de negacao do principio basico de seu funcionamento ( o capitalista-modelo atual eh alguem que, apos implacavelmente gerar lucro, generosamente o compartilha, fazendo grandes doações a igrejas, a vitimas de abuso etnico ou sxual, etc., posando de humanitario), o mais alto gesto de transgressão eh afirmar esse principio diretamente, privando-o de sua mascara humanitária  Estou, portanto, tentando inverter a tese 11 de Marx: a primeira tarefa da atualidade e precisamente nao sucumbir a tentação de agir, de intervir diretamente e mudar as coisas (que inevitavelmente termina num beco sem saida de debilitante impossibilidade: " Que podemos fazem contra o capital global ?") mas questionar as coordenadas ideologias hegemônicas. Em suma, nosso momento histórico eh ainda o de Adorno:

A questão "o que fazer?", quase sempre so posso responder com certeza que "nao sei". Apenas posso tentar analisar rigorosamente o que existe. Nesse sentido, alguns me contestam: quando você pratica a critica, esta também obrigando a dizer como fazer melhor. Para mim isso eh sem duvida um preconceito burguês  Muitas vezes, na historia, obras que buscavam objetivos puramente teóricos transformaram a consciência, e, consequentemente, também a realidade social. (Theodor Adorno, Vermischte Schriften I, Frankfurt, Suhrkamp, 1997, p. 404)