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Isto aqui, isso ali...

O mundo intelectual ortodoxo sustenta atualmente a idéia de que a civilização, em suas inúmeras relações sociais/econômicas/políticas, existe como meio para que o homem possa exercitar sua capacidade criativa e etc - arte, ciência; cultura. 
Claro que 'eles' sabem que um 'certo grupo de pessoas', confinado a um certo regime meio neo-escravocrata, não pôde escolher se iria ou não contribuir - especialmente de forma tão desagradável - no tal belo mundo do Engenho Humano. 
(Engraçado pensar que o 'certo grupo de pessoas', os contribuintes colocados na posição mais indesejável da coisa, são os que estão mais longe de levar uma vida artística ou regada com os frutos da ciência). 
Mas 'o mundo intelectual' parece ter a consciência limpa. Por mais dissimuladas que sejam as opiniões, existe um certo consenso de que o burguês é uma boa pessoa, humana. Ele, ao mesmo tempo que procura defender a produção cultural, com certeza se sensibiliza e se sente absolutamente desgostoso frente aos problemas sociais e injustiças do mundo. 
Tão estrondoso exemplo de altruísmo atinge seu ápice quando o indivíduo se inicia no intrincadíssimo mundo político, filosófico e econômico (os pobres pelos quais Ele luta nunca entenderiam esse chato mundo de frações, tabelas e cotações - o que torna nosso justiceiro uma figura ainda mais romântica). 
Ou seja, se inicia a carreira intelectual acadêmica e as discussões: são artísticas, científicas, econômicas, sociais, filosóficas... Nosso herói passa a entender ainda mais sobre a história do nosso País e seu sofrido povo; estuda Sartre e seu Existencialismo e Descartes e seu Penso, logo existo (ou seria Penso, logo não faço?). 
Ele vai lutar por leis mais justas, imprensa mais séria e essas coisas todas. Talvez até se filie a algum partido - provavelmente um daqueles progressistas cheios de Marx. 
É assim que Ele ajuda o Povo. 
Apenas algum tipo de pessoa dominada por forças malignas duvidaria disso, e começaria a arquitetar idéias absurdas de que aquela conversa bonitinha de "cultura + luta = futuro melhor" na verdade é "cultura + enrolação - vergonha na cara = estagnação/microondas". 
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Pessoas que, assim como eu, estão envolvidas num simples sentimento de crítica profunda, sabem qual é o drama do tópico ?solução? em suas vidas. Muito se diz a respeito de pessoas dotadas com esse tipo de descrença; Diz-se que gastam todo o seu tempo em críticas destrutivas, mas que pouco falam ou propõe a respeito da solução dos problemas. 
Para nós, propor uma solução é mesmo uma coisa rara, devido à tal descrença. Descrença que se dá ante quase todas as coisas - ou seja, todas as coisas que envolvem o coletivismo. 
Os que nos pedem soluções parecem esperar algum tipo de idéia - que, aliás, se transforma facilmente em uma ideologia - que crie um mundo onde seja possível ao homem ao mesmo tempo exercitar sua individualidade em plenitude e explorar suas potencialidades da maneira mais eficiente (cultura?). Algum tipo de organização utópica, um anarquismo cooperativista, acho. 
Essas pessoas, que acreditam no coletivismo, deviam elas mesmas (boa sorte e que a paz esteja com você!) buscar uma forma de interação onde o homem não seja tão imbecil: basta colocar algumas pessoas juntas e esperar os prováveis danos que o individual sofrerá. 
Eu arriscaria dizer que a maior habilidade inerente aos homens estão claras nos diversos casos de estupidez que surgem das ainda mais diversas formas de agrupamentos que já fomos capazes de imaginar. 
Não. Nós não vamos procurar soluções paliativas para os muitos problemas que surgiram dessa desastrada civilização; apenas conspirando para a criação de novos problemas que exijam novas soluções, como se algum dia fôssemos esgotar uma lista de ?lições a aprender? e pudéssemos enfim construir nossa utopia de humanidade perfeita. 
Então, o que fazer? Nos encaram duas possibilidades: 
Ou não existe mais espaço para atuação individual nesse mundo policiado e lotado ou falta o verdadeiro compromisso para fazer o que o pensamento radical em cada um propõe, em sua concepção própria (concepção talvez até influenciada pelo coletivo). 
Esse medo de um futuro incerto talvez possa ser superado apenas por um perfeito reto pensar e reto sentir, quando o indivíduo deixaria de ceder às futilidades e facilidades oferecidas pela vida irresponsável onde cada um se apóia no Outro. 
Ou seja, a energia que nasce do pensamento radical não seria mais compensada em fatores externos. Iríamos passar finalmente para a etapa da atitude radical e poderíamos parar de chorar nossa própria hipocrisia.